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Texto: Contos de assombração

Neste trimestre desenvolveremos atividades de leitura, interpretação, re-escrita e produção de contos de assombração. Para aquecer vamos começar a ler um conto?

A velha que pôs a morte para correr

 

     Todo dia a velha esfregava a casa de cima a baixo e depois cuidava de seus bichos, preparava a sopa, lavava e cerzia. No tempo que restava, ela cuidava do jardim. Era incansável e gostava de viver desse jeito. Um dia, alguém entrou em sua casa sem bater. Era a Morte, que lhe disse prontamente:

     ___ Seu tempo se esgotou! Vim buscá-la, siga-me!

     A velha, toda trêmula, balbuciou:

     ___ Como? Já? Ainda tenho muito a fazer; veja, estou lavando roupa e preciso ordenhar as cabras. Volte mais tarde!

     ___ Pensa que só tenho você para levar? Seu tempo terminou você tem que me seguir, a regra é a mesma para todos.

     A velha começou a suplicar:                                                                                                       

    ___ Deixe-me pelo menos terminar meu trabalho! Depois a seguirei!

    ___ Já lhe disse que seu tempo esgotou você deve vir e pronto!

    ___ Não posso deixar minha casa desordenada! São só uns poucos dias e logo serei sua!

    Para não perder mais tempo com conversa inútil, a Morte decidiu:

    ___ Concedo-lhe três horas, em caráter excepcional!

    ___ Por que tão pouco? Dê-me um dia! Amanhã na mesma hora poderás me levar!

   ___ Você é mais teimosa do que trinta e seis burricos juntos! Bem, concedo-lhe um dia. Mas preste muita atenção, é isso e nem mais um minuto!

    A velha entregou um pedaço de giz à Morte e lhe disse:

    ___Obrigada! Para não se esquecer, escreva na minha porta!

    Perdendo a paciência, a Morte escreveu ao sair: “Velha para pegar amanhã”. No dia seguinte, a Morte voltou na hora combinada.  A velha sem nem sequer a olhar para Morte foi dizendo:

    ___ Você se enganou de dia, minha filha! Leia só o que escreveu na minha porta! E volte amanhã!

   A Morte entendeu no mesmo instante que a velha a tapeara. Humilhada saiu sem dizer uma palavra. Nos dias que se seguiram, passou diante da porta e não parou. Até a primeira chuva. Nessa manhã, a mulher ficou em pânico quando a Morte lhe disse:

    ___ Acabou a brincadeira, velha! Não há mais nada escrito na sua porta! A chuva apagou tudo! Ande, siga – me!

    ___ Tudo bem, vou segui-la! Preciso apenas me trocar, não posso ir nesse avental caindo aos pedaços!

    A velha se esquivou prontamente, entrou no celeiro em busca de um esconderijo seguro. Escondeu–se num tonel e logo percebeu que estava toda pegajosa, pois o recipiente continha mel. Saiu para se refugiar numa cesta com penas de pato, sem lembrar que era alérgica a elas... Logo ficou sufocada, saiu de lá, seus pés ficaram presos num saco que havia ali e ela caiu em cima de um monte de carvão. Para se levantar, agarrou – se na primeira coisa a seu alcance: o cabo de uma forquilha.

    Notando a demora, a Morte resolveu ir ver o que a velha recalcitrante andava aprontando. Ao entrar no celeiro, deu de cara com uma criatura horrível. Tinha diante de si um monstro saído diretamente de um sonho de terror. Uma espécie de fúria emplumada, pingando mel, preta como carvão e que a ameaçava sacudindo a forquilha. Ficou tão apavorada que fechou os olhos, gritou: “Mamãe, me salve! Estou com medo!” e fugiu correndo a toda para não mais voltar.

     Refeita de seu próprio pavor, a velha voltou ao trabalho depois de tomar um bom banho.

 

“Para vencer os influentes convém sermos persistentes.

    Um pouco de astúcia, até diante da morte, é assim que escapamos a própria sorte”. 

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